A morte de Beatriz aconteceu em uma época em que a Internet e as redes sociais estavam apenas começando. O celular era uma novidade e ainda se limitava a chamadas e mensagens SMS. A ausência de tecnologias modernas como WhatsApp tornou a comunicação e a disseminação de informações mais lentas, mas não impediu que o caso ganhasse notoriedade.
Beatriz e Luiz Henrique eram figuras conhecidas no Vale do Sinos. Ela, especialista em jornalismo empresarial, e ele, dono de uma exportadora de calçados e engajado na política. O casal, que vivia na alta sociedade, enfrentava uma crise conjugal intensa. A polícia e o Ministério Público concluíram que o motivo do crime foi passional com um componente patrimonial. Ambos tinham amantes e passavam por dificuldades financeiras.
A situação se agravou quando Beatriz encontrou 24 fitas de vídeo, gravadas pelo marido, nas quais ele aparecia em relações sexuais com outras mulheres. Horrorizada, ela decidiu se separar. Luiz Henrique, que monitorava a esposa com grampos telefônicos, havia contratado um seguro de vida para ela no valor de R$ 350 mil, sem o conhecimento dela, apenas quatro meses antes do homicídio.
Na manhã de 12 de junho de 2004, Beatriz foi queimada viva no carro do marido, um Megane, entre 9h30 e 9h50, em um terreno baldio perto do Santuário das Mães. Luiz Henrique, que sempre jurou inocência, registrou o desaparecimento da esposa naquela tarde. O corpo carbonizado de Beatriz foi encontrado na manhã seguinte. A perícia confirmou que ela foi sedada com Dormonid e acordou com o corpo em chamas, aspirando fumaça antes de morrer.
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Sanfelice foi considerado o principal suspeito desde o início. Ele participou de uma passeata pela paz com uma foto emoldurada da vítima, tentando manter a aparência de um marido enlutado. No entanto, a evidência contra ele se acumulava. Uma testemunha-chave viu o carro em chamas às 9h45, apenas dez minutos após Sanfelice afirmar ter deixado a esposa. Além disso, uma irmã de Beatriz afirmou ter visto Sanfelice chegar em casa com roupas sujas de fuligem por volta das 10h.
Durante as investigações, a polícia descobriu detalhes perturbadores da vida conjugal do casal, incluindo as fitas de sexo entregues pelo amante de Beatriz. Na manhã do crime, Beatriz havia ligado para o amante dizendo que não poderia se encontrar com ele porque o marido havia preparado uma “surpresa”.
Sanfelice foi preso em casa uma semana após o crime. Em dezembro de 2006, foi condenado a 19 anos e três meses de prisão. Em 2007, conseguiu o regime semiaberto e fugiu em 2008. Foi capturado em 2010 na Espanha e extraditado para o Brasil, onde terminou de cumprir sua pena em 2022. Hoje, ele vive no Paraná, onde abriu uma empresa de transporte.
A família de Beatriz ainda sofre com a perda. O irmão da vítima, Flávio Rodrigues, expressa um sentimento de impunidade, enquanto o promotor Eugênio Paes Amorim destaca a natureza ritualística do crime. “Foi o fato mais marcante da minha carreira”, diz Amorim, comparando o assassinato de Beatriz ao ritual de purificação das bruxas na antiguidade.
A defesa de Sanfelice, no entanto, questiona a investigação e as provas apresentadas. Fábio Adams, advogado de Sanfelice, acredita que, com as regras processuais atuais, ele não seria condenado. Adams aponta falhas na investigação e na preservação das provas, sugerindo que outros suspeitos, como o amante de Beatriz, deveriam ter sido investigados mais profundamente.
O assassinato de Beatriz Rodrigues permanece um lembrete sombrio do que uma combinação de ciúmes, traição e desespero financeiro pode causar. Vinte anos depois, as feridas ainda não cicatrizaram completamente, e as perguntas sem resposta continuam a assombrar aqueles que se lembram daquele trágico Dia dos Namorados.