Prefeitura de Porto Alegre foi alertada sobre enchentes em 2018
Documentos revelam falhas críticas que contribuíram para as devastadoras inundações
Prefeitura recebeu avisos sobre possibilidades em 2018 e 2023
No último mês de maio, Porto Alegre enfrentou uma tragédia climática que interrompeu ao menos 178 vidas, ampliando o debate sobre a vulnerabilidade da cidade às enchentes. Documentos obtidos pelo jornalismo da Band, analisados com o auxílio da ferramenta Google Pinpoint, revelaram um cenário preocupante: o sistema de bombas da capital gaúcha, fundamental para diminuir o impacto das cheias do Guaíba, falhou.
Construído na década de 1970, o sistema composto por diques, um muro e comportas deveria proteger áreas centrais de Porto Alegre. No entanto, falhas nas casas de bombas 13, 17 e 18 foram identificadas desde 2018, conforme alertas emitidos por engenheiros do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE). Estes alertas, resgatados em documentos de 2023, apontavam para a possibilidade de alagamentos severos em pontos estratégicos da cidade, como a região entre a Usina do Gasômetro e a Estação Rodoviária.
O deputado estadual Matheus Gomes (PSOL) levou a questão ao Ministério Público Estadual, solicitando uma investigação sobre possíveis negligências e omissões por parte da Prefeitura e das autoridades municipais. Os documentos revelam que pedidos de manutenção e modernização do sistema foram encaminhados à Secretaria Municipal de Infraestrutura Mobilidade (Smim), porém, as providências não foram tomadas a tempo de evitar a tragédia.
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Responsabilização da Prefeitura é repassada
Em resposta às acusações, o diretor do DMAE, Maurício Loss, afirmou que o processo não foi negligenciado, mas sim que os prazos e complexidades burocráticas do setor público dificultaram intervenções imediatas. Já o prefeito Sebastião Melo (MDB) enfatizou que as enchentes foram resultado não apenas das falhas nas casas de bombas, mas também das intensas chuvas que afetaram todo o Rio Grande do Sul.
A Smsurb, responsável pela gestão urbana à época das advertências, admitiu ter identificado as falhas nas casas de bombas 17 e 18, porém alegou que a responsabilidade direta pela execução das obras cabia à Smim. Segundo Ramiro Rosário, então titular da Smsurb, o processo tramitou para ciência na Smim sem que houvesse ação concreta.
Diante das evidências apresentadas, fica claro que o desastre poderia ter sido mitigado com ações preventivas efetivas e rápidas. O episódio serve como alerta não apenas para Porto Alegre, mas para todas as cidades que enfrentam desafios similares de infraestrutura e gestão ambiental diante das mudanças climáticas cada vez mais extremas.
Imagem destaque: Cristine Rochol/PMPA/prefeitura poa